quarta-feira, 6 de abril de 2022

Afonso Ernesto Belmont: o tabelião público de Nova Cruz.

 

Gustavo José Barbosa*

“Era assim Ernesto Belmont!

Nova Cruz muito lhe deve.

Não falar dele, não citar seu nome,

na história da cidade,

é querer apagar uma página preciosa,

ignorar o papel de relevo que exerceu”.

Antenor Laurentino Ramos      



Uma das personalidades de grande importância na história de Nova Cruz (RN) durante a República Velha, foi o tabelião público Afonso Ernesto Belmont (1873-1932). Membro da proeminente família Belmont de Araruna (PB), que vêm sendo estudada com afinco pela confreira Zilma Ferreira Pinto ao longo de suas pesquisas genealógicas, Afonso herdou assim o gosto pela política e de liderança.

            A militância política da família Belmont em Araruna remonta a fundação da vila no ano de 1876, pois Manoel d´Azevedo Belmont, avô paterno de Afonso, foi um dos primeiros membros da Câmara do município (1877), junto com pioneiros  daquele lugar: Manuel Januário Bezerra Cavalcanti (presidente), Joaquim Cassiano Bezerra, João Themoteo Queiróz e Targino Pereira da Costa. Cabe destacar que o pai de Afonso, o coronel Afonso Vieira de Mello Belmont (1848-1919) foi uma importante liderança política em Nova Cruz, exercendo cargos na Intendência Municipal e foi eleito deputado para o Congresso Legislativo do Rio Grande do Norte no ano de 1911.

            A inserção de Afonso Belmont na política novacruzense desta forma foi um processo natural, tendo fundado no ano de 1915 o jornal A Liberdade que cumpriu a tarefa de propagar as ideias do seu grupo político. No entanto, Afonso não exerceu funções no Conselho da Intendência Municipal, desempenhou uma tarefa de “aconselhador político” nos mandatos do seu irmão Targino Ernesto Belmont (1884-?), do seu cunhado Antônio Thiago Gadelha Simas (1871-1942) e marcando o fim da República Velha, do seu sobrinho, o desembargador Mario Gadelha Simas (1904-1989).

            Cabe salientar que outra liderança da política novacruzense, o comerciante Nestor José Marinho (1888-1947), que até a década de 1920 participou da oposição aos velhos republicanos comandados por Anísio Alípio de Carvalho (1864-?), foi influenciado por Afonso no seu mandato como presidente da Intendência Municipal e posteriormente como deputado no legislativo potiguar. Naquela Nova Cruz do alvorecer do século passado o ritmo da vida das pessoas era regulado pelo sino da matriz de Nossa Senhora da Conceição, pelo barulho do trem e pela movimentação da feira livre, e Afonso foi responsável por tomar nota no seu cartório de centenas de nascimentos, casamentos e óbitos.

Nascido em Goianhinha (RN), casado com a tia paterna, D. Claudina Cândida Belmont “Candinha”, Afonso não teve filhos, faleceu e foi sepultado no lugar onde trabalhou e viveu do seu ofício. A vida do tabelião foi lembrada com riqueza de detalhes pelo professor Antenor Laurentino Ramos no livro “Memorial da Anta Esfolada: Nova Cruz no espaço e no tempo”; a obra cumpre um papel de grande importância na historiografia novacruzense e também para aqueles, que como eu, não conheceram este personagem que moldou a vida do município até sua partida para eternidade.

 

* Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) e sócio correspondente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica (IPGH). E-mail: gustavoufpb@outlook.com

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