Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, João Pessoa, 26 de agosto de 2022.
Discurso
de posse no Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica
Senhor
presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica (IPGH), professor
Ednaldo Cordeiro Pinto Junior,
Caros
confrades (as),
É com grande satisfação que neste dia tomo posse como
sócio efetivo do IPHG, uma das instituições culturais mais importantes do
Estado Paraíba, e uma das únicas do Brasil dedicada à genealogia e a heráldica.
A genealogia, a vertente que tenho me dedicado nos últimos anos, é uma ciência
que dialoga com inúmeros outros ramos científicos, como a medicina, a
psicologia, a história, e também com a literatura.
Na obra “O alienista” o escritor Machado
de Assis (1839-1908) inseriu traços genealógicos, com uma pitada de humor, na
biografia de alguns pacientes do Dr. Simão Bacamarte, onde havia um com comportamento
peculiar:
A
mania das grandezas tinha exemplares notáveis. O mais notável era um
pobre-diabo, filho de um algibebe, que narrava às paredes (porque não olhava
nunca para nenhuma pessoa) toda a sua genealogia, que era esta:
-
Deus engendrou um ovo, o ovo engendrou a espada, a espada engendrou Davi, Davi
engendrou a púrpura, a púrpura engendrou o duque, o duque engendrou o marquês,
o marquês engendrou o conde, que sou eu.
Dava
uma pancada na testa, um estalo com os dedos, e repetia cinco, seis vezes
seguidas:
-
Deus engendrou um ovo, o ovo, etc.[1]
Foi imerso nesse espírito de apreço pela
genealogia que no entardecer do ano de 2020 fui agraciado com o ingresso neste
sodalício, na qualidade de sócio correspondente, e ao longo desses dois anos
pude conviver com ilustres confrades e confreiras que muito contribuiu com a
minha evolução intelectual. Ao chegar à condição de sócio efetivo deste Instituto,
não titubei em escolher como patrona a Drª Lylia Guedes (1889-1974), pois dentre
as inúmeras qualidades desta mulher de letras, uma em particular me une a ela, o
fato de termos nascido na mesma cidade: Nova Cruz (RN).
Eis, portanto, um desafio fundar a
cadeira n° 27 do IPGH e honrar doravante a memória desta ilustre mulher que
saindo de Nova Cruz em tenra idade, coroou seu brilho profissional no Estado da
Paraíba. O escritor Josué Montelo (1917-2006) lembrou que o neófito ao
ingressar numa instituição cultural, no seu caso a Academia Brasileira de
Letras (ABL), tem o dever de cultivar a biografia dos seus antecessores e
também do fundador da sua cadeira, todavia:
Se
a tradição abriu espaço para o louvor dos predecessores, começando pelo
fundador da Cadeira, não tornou comum o louvor do patrono respectivo. Daí o
silêncio sobre certos nomes do passado acadêmico, cada um deles inscrito por
trás da poltrona azul, no salão nobre da Casa de Machado de Assis.[2]
A Drª Lylia Guedes nasceu no entardecer da
monarquia, aos 14 de novembro de 1889, filha do tabelião público de Nova Cruz,
Terêncio Guedes e de D. Amélia Menezes Guedes (1866-1931). É neta paterna do
capitão Sebastião Luiz Guedes de Souza e D. Firma Guedes de Souza; neta materna
de Justino Antônio de Menezes e D. Isidra Maria de Oliveira Menezes.
Dados preliminares das minhas pesquisas
apontam que o clã Guedes de Souza tem sua origem no município de Goianinha
(RN), enquanto os Álvares de Menezes migraram de Pernambuco para Nova Cruz na
segunda metade do Século XIX e ali foram prósperos comerciantes e líderes
políticos da vila. O avô materno de Lylia, Justino Antônio de Menezes foi dos
signatários que apelou ao presidente da Província da Paraíba no ano de 1871,
pela criação da Vila de Araruna (PB).[3]
Após ter as primeiras instruções escolares
com seus pais, Lylia já residindo na capital da Paraíba continuou seus estudos
no antigo curso Francisca Moura e logo em seguida no Lyceu Paraibano. Ingressou
na Faculdade de Direito de Olinda e Recife no ano de 1918 e quatro anos depois
formou-se bacharela em direito.
No ano de 1932 a Drª Lylia Guedes
tornou-se a primeira mulher inscrita no Instituto dos Advogados da Paraíba,
atual seção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e esta busca pelo espaço da
mulher na sociedade continuou uma constante na sua vida, luta esta
institucionalizada como líder da Associação Paraibana pelo Progresso Feminino
(APPF), mas também como dirigente da categoria dos jornalistas paraibanos.
Tomou posse como sócia do Instituto
Histórico e Geográfico da Paraíba (IHGP) no dia 9 de julho de 1939[4] com o discurso “Maciel
Pinheiro: democrata e republicano”,[5] tendo uma presença
constante nas atividades da instituição. Drª Lylia Guedes foi uma das seis
mulheres que participaram da fundação do IPGH no dia 19 de novembro de 1967 sob
o impulso de Deusdedit de Vasconcelos Leitão (1921-?), José Leal Ramos
(1891-1976) e Sebastião de Azevedo Bastos (1894-?).
Abraçando o ensino, sua paixão maior, Drª
Lylia foi professora de inúmeras gerações de paraibanos, vindo a falecer com
seus parentes, em Fortaleza (CE), no mês de setembro de 1974.
Sou grato por estar nesse momento tomando
posse nesta Instituição tradicional e espero contribuir com os seus maiores
objetivos na preservação na história dos nossos clãs e também o zelo pela heráldica.
Muito obrigado.
João Pessoa, 26 de agosto de 2022.
[1]
ASSIS, Machado de. O alienista.
Sem cidade: Germape, sem data, p. 8.
[2]
MONTELO, Josué. A lição de João
Francisco Lisboa. In: NISKIER,
Arnaldo. João Francisco Lisboa: o Timon maranhense. Brasília: Senado Federal,
2012, p. 15. 182 v.
[3]
LUCENA, Humberto Fonseca de.
Araruna: anotações para a sua história. João Pessoa: Governo do Estado da
Paraíba, 1985.
[4]
Instituto Histórico e Geográfico
Paraibano. Quadro de social: memória. João Pessoa: IHGP, 2004.
[5]
BARBOSA, Socorro de Fátima
Pacífico (Org.). Pequeno dicionário dos escritores/jornalistas da Paraíba do Século
XIX: de Antônio Fonseca a Assis Chateaubriand. João Pessoa: UFPB, 2009.
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