Gustavo José Barbosa*
O
período pós-Primeira Guerra Mundial foi de florescimento de inúmeras ideologias que buscaram a transformação da
ordem social vigente, e a construção de um novo modelo político e econômico, como o comunismo. O Brasil na década de 1930 já havia passado por um processo de
ruptura constitucional com a ascensão à presidência da República do gaúcho
Getúlio Vargas (1882-1954), da Aliança Liberal, todavia grupos ligados ao movimento operário, como o Partido Comunista do Brasil
(PCB), continuaram operando no país.
As
lideranças do PCB convenceram a direção da III Internacional (Komintern) que no Brasil havia condições propícias para uma revolução socialista,
e assim os dirigentes da Internacional deslocaram o “neófito” marxista Luís
Carlos Prestes (1898-1990) para comandar esse processo na Terra de Santa Cruz. O
levante que ficou conhecido, dentre outras denominações, como Intentona
Comunista, eclodiu no mês de novembro de 1935, coordenado pela Aliança
Nacional Libertadora (ANL) e houve levantes apenas em Natal (RN), Recife (PE) e
no Rio de Janeiro.
Diante
da posição geográfica privilegiada do município de Nova Cruz (RN) e também por
possuir uma estação ferroviária com acesso aos Estados da Paraíba e Pernambuco,
alguns revolucionários foram encaminhados para o município. Dentre os objetivos
dos comunistas estavam o de reprimir os políticos novacruzenses que
participavam do Partido Popular "perrepistas", como Abelardo Melo, José Lucena e Luiz
Cabral Ferreira Maciel (1885-1961).
Na
obra “Memórias de Nova Cruz” a conterrânea Teresinha de Arruda Câmara Cabral
relatou com detalhes esses dias de apreensão entre a população da pacata Nova
Cruz, e como a residência do seu pai, o ex-prefeito municipal Antônio Arruda
Câmara (1882-1956), precisou ser utilizada como hospedagem para os aguerridos
comunistas. Porém, Antônio Arruda não ficou inerte diante daquela situação e
conseguiu enviar um dos seus filhos, Armando Arruda Câmara (1914-1996), para o
vizinho Estado da Paraíba em busca de apoio militar para enfrentar o grupo
revolucionário.
Outro
personagem que esteve na linha de frente deste conflito foi Odilon Amâncio
Ramalho (1892-1983) pois havia naquele mesmo mês, sido nomeado delegado de
polícia de Nova Cruz, todavia o efetivo policial e a disponibilidade de
armamentos eram insuficientes para um enfrentamento aos comunistas. O
novacruzense e sobrinho de Odilon, Dr. Daladier Pessoa da Cunha Lima,
relatou no seu livro “Noilde Ramalho: uma história de amor à educação” que o seu
tio partiu para vizinha cidade de Caiçara (PB) também em busca de apoio militar
para enfrentar os revolucionários, porém sua família o convenceu que seria um
erro aquele conflito e não houve confronto.
Passado
o episódio e reestabelecida a ordem social anterior no Rio Grande do Norte, a paz voltou
à reinar em Nova Cruz, todavia o grupo que fazia oposição à família Arruda
Câmara não perdeu a oportunidade de criticar o clã, e numa manhã a população
acordou com uma frase pichada de frente à casa de Antônio: “Os Arrudas estão
com os comunistas ateus”. Esses e outros episódios marcaram a política
novacruzense ao longo do século XX com a participação dos Arruda, Carvalho,
Lisboa, Maciel, Manso, Marinho, Moreira, Pessoa, Ramalho, e outras
personalidades políticas nas disputas pelo poder local e na participação dos eventos de grande magnitude do país.
*
Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte
(IHGRN) e sócio correspondente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica
(IPGH). E-mail: gustavoufpb@outlook.com
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