quarta-feira, 13 de abril de 2022

Nova Cruz e a Intentona Comunista

 

Gustavo José Barbosa*     

O período pós-Primeira Guerra Mundial foi de florescimento de inúmeras ideologias que buscaram  a transformação da ordem social vigente, e a construção de um novo modelo político e econômico, como o comunismo. O Brasil na década de 1930 já havia passado por um processo de ruptura constitucional com a ascensão à presidência da República do gaúcho Getúlio Vargas (1882-1954), da Aliança Liberal, todavia grupos ligados ao movimento operário, como o Partido Comunista do Brasil (PCB), continuaram operando no país.

As lideranças do PCB convenceram a direção da III Internacional (Komintern) que no Brasil havia condições propícias para uma revolução socialista, e assim os dirigentes da Internacional deslocaram o “neófito” marxista Luís Carlos Prestes (1898-1990) para comandar esse processo na Terra de Santa Cruz. O levante que ficou conhecido, dentre outras denominações, como Intentona Comunista, eclodiu no mês de novembro de 1935, coordenado pela Aliança Nacional Libertadora (ANL) e houve levantes apenas em Natal (RN), Recife (PE) e no Rio de Janeiro.

Diante da posição geográfica privilegiada do município de Nova Cruz (RN) e também por possuir uma estação ferroviária com acesso aos Estados da Paraíba e Pernambuco, alguns revolucionários foram encaminhados para o município. Dentre os objetivos dos comunistas estavam o de reprimir os políticos novacruzenses que participavam do Partido Popular "perrepistas", como Abelardo Melo, José Lucena e Luiz Cabral Ferreira Maciel (1885-1961).

Na obra “Memórias de Nova Cruz” a conterrânea Teresinha de Arruda Câmara Cabral relatou com detalhes esses dias de apreensão entre a população da pacata Nova Cruz, e como a residência do seu pai, o ex-prefeito municipal Antônio Arruda Câmara (1882-1956), precisou ser utilizada como hospedagem para os aguerridos comunistas. Porém, Antônio Arruda não ficou inerte diante daquela situação e conseguiu enviar um dos seus filhos, Armando Arruda Câmara (1914-1996), para o vizinho Estado da Paraíba em busca de apoio militar para enfrentar o grupo revolucionário.

Outro personagem que esteve na linha de frente deste conflito foi Odilon Amâncio Ramalho (1892-1983) pois havia naquele mesmo mês, sido nomeado delegado de polícia de Nova Cruz, todavia o efetivo policial e a disponibilidade de armamentos eram insuficientes para um enfrentamento aos comunistas. O novacruzense e sobrinho  de Odilon, Dr. Daladier Pessoa da Cunha Lima, relatou no seu livro “Noilde Ramalho: uma história de amor à educação” que o seu tio partiu para vizinha cidade de Caiçara (PB) também em busca de apoio militar para enfrentar os revolucionários, porém sua família o convenceu que seria um erro aquele conflito e não houve confronto.

Passado o episódio e reestabelecida a ordem social anterior no Rio Grande do Norte, a paz voltou à reinar em Nova Cruz, todavia o grupo que fazia oposição à família Arruda Câmara não perdeu a oportunidade de criticar o clã, e numa manhã a população acordou com uma frase pichada de frente à casa de Antônio: “Os Arrudas estão com os comunistas ateus”. Esses e outros episódios marcaram a política novacruzense ao longo do século XX com a participação dos Arruda, Carvalho, Lisboa, Maciel, Manso, Marinho, Moreira, Pessoa, Ramalho, e outras personalidades políticas nas disputas pelo poder local e na participação dos eventos de grande magnitude do país.

 

* Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) e sócio correspondente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica (IPGH). E-mail: gustavoufpb@outlook.com

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