Gustavo José Barbosa*
“Ao individuo cabe
receber o que foi preservado,
desfrutar dessa
herança como fiel depositário
e passa-lá às
gerações vindouras em uma cadeia
a que se percebe
como invisível e interminável”
J. P. Coutinho
A preservação da memória dos acontecimentos nas diversas
instituições da sociedade, entre as quais estão as categorias profissionais, é
um fator imprescindível para criar um ambiente propício de unidade e continuidade
de organização social.
É do conhecimento de quase todos que a nossa profissão
surgiu em 1911 com a criação do curso de Capataz Agrícola1 na Escola
Técnica de Agricultura, em Viamão-RS, mas somente com o estabelecimento de uma legislação
profissional pelo Presidente da República a categoria obteve considerável
reconhecimento e autonomia no mundo do trabalho.
No próximo dia 5 de novembro (Dia do Técnico Agrícola) a
Lei nº 5.524, de 5 de novembro de 1968, que instituiu as profissões de técnico
industrial e técnico agrícola de nível médio, completa meio século de
existência. Muitas vezes nós comemoramos o Dia do Técnico Agrícola, mas por
desconhecer as nuances históricas, não temos conhecimento que ele está
umbilicalmente ligado ao dia da sanção da referida lei.
Um marco tão importante para as duas categorias profissionais
deve ser lembrado com grande ênfase pelas entidades representativas dos
técnicos para entendermos todo o contexto em que a legislação foi estabelecida.
Porém, um dos anseios da categoria que poderia ter sido estabelecido na Lei nº
5.524/1968 ficou sem encaminhamento: a criação do Conselho de Fiscalização
Profissional.
Confraternização natalina dos técnicos rurais no Restaurante Elite, em Porto Alegre-RS (1942). |
A Lei nº 5.524/1968 citou breves atribuições
profissionais, mas garantiu que deveria haver uma regulamentação da legislação
que culminou com o Decreto nº 90.922, de 6 de fevereiro de 1985, detalhando as atividades que o técnico pode exercer. São nestes momentos históricos de
resgate dos passos percorridos, que realinhamos nossa trajetória de atuação e
vislumbramos um futuro promissor para os jovens que estão nas escolas técnicas e
os que já exercem a profissão.
1 – O técnico rural Mozart
Pereira Soares (1915-2006) um dos mais brilhantes nomes da literatura gaúcha
explica a origem da denominação: “Os
proprietários rurais, desde os senhores das grandes circunscrições
agropecuárias até os de pequenas posses têm, como elemento de confiança, no
comando prático de suas estâncias e fazendas, justamente o Capataz, portador da
dignidade tradicional do nosso campesinato, mas ainda sem as necessárias bases
da ciência e da técnica.
Ao
optar pelo batismo de Capataz, os condutores da Escola de Engenharia, mais uma
vez, revelaram sua sensibilidade social. Não só conservaram o nome que a
tradição consagrara, mas ainda o promoveram a um estágio mais elevado pela
cultura. Apenas acrescentavam, à semelhança genérica sugerida por aquele título
histórico, sua diferença específica do adjetivo rural. Contornava-se assim a
questão mais ou menos delicada de se oferecer uma assistência estranha ao
ambiente em que deveria atuar, com possibilidade, até, de rejeição social,
conhecendo-se a resistência a mudanças de nossos homens do interior e sua
notória desconfiança ante as novidades do progresso”.
Referência:
SOARES, M. P. Escola Técnica de Agricultura João
Simplício Alves de Carvalho: contribuição para sua história. Porto Alegre:
AGE Editora, 1997. Pg. 33-34.
*Técnico Agrícola pela
Escola Agrícola de Jundiaí.
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