domingo, 21 de abril de 2019

O Conselho dos Técnicos Agrícolas e a jumenta de Balaão


Gustavo José Barbosa*

             
  Em tempos de revisão dos acontecimentos históricos ninguém está livre de ter seu passado esquecido ou docemente modificado, vide os ventos que sopram na política europeia e até aqui no “fim do mundo” como diz o Papa Francisco referindo-se a nossa América do Sul.

               Setores importantes da sociedade brasileira no campo da indústria e da agropecuária assistiu com atenção nas últimas cinco décadas os conflitos existentes entre os técnicos de nível médio e estrutura dos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (CREA´s).

               Quando observamos a histórias das categorias profissionais percebemos que em diversos momentos as entidades sindicais buscaram junto ao Governo Federal a criação de um Conselho, mas a única presidente da República que protagonizou tal feita foi Dilma Rousseff, poucos dias antes de deixar o Planalto no ano de 2016.

               Se não podemos esquecer a Mensagem que Dilma enviou à Câmara dos Deputados para criação dos Conselho Federal dos Técnicos Agrícolas e Industriais e os Conselhos Regionais dos Técnicos Agrícolas e Industriais, tampouco podemos dar as costas para as entidades que verteram sangue, suor e lágrimas para ver esse sonho histórico concretizado: Associação dos Técnicos Agrícolas do Brasil (ATABRASIL), Federação Nacional dos Técnicos Industriais (FENTEC), Organização Internacional dos Técnicos (OITEC) e apartir do ano de 2017 a Federação dos Técnicos Agrícolas do Brasil (FINTA-BR).

               Durante dois anos de caminhada do Projeto de criação dos Conselhos no Congresso Nacional foi nítida a tentativa de algumas lideranças caducas dos técnicos agrícolas em enterrar nosso projeto, pois eles acreditavam que não poderia haver uma autarquia única para as duas categorias profissionais. O discurso destes arautos da verdade estava embebecido de um orgulho que não atentava para realidade financeira e administrativa das futuras entidades, e que norteou a presidente Dilma a encaminhar o Projeto com um Conselho único para os técnicos agrícolas e técnicos industriais.

               Passados doze meses e sem haver ainda eleição sequer para a diretoria do Conselho Federal dos Técnicos Agrícolas (enquanto os industriais já elegeram os membros das quatro instâncias dos seus Conselhos) aparecem vídeos e postagens de um terceiro grupo de possíveis candidatos à diretoria totalmente deslocados da realidade e que em nada apresenta de novo na caminhada da categoria profissional.

               O mote destes agricolinos catecúmenos é que é preciso eleger um grupo dirigente para o nosso Conselho que não esteja envolvido nos conflitos bélicos que arrastam as duas federações e a categoria para um possível precipício.

               É louvável que surjam grupos interessados no Conselho e na luta dos técnicos agrícolas, embora um pouco tarde no relógio do tempo; mas querer apagar a importância das entidades representativas dos técnicos é um pouco cômico

               Dentre as muitas histórias bíblicas encontramos a de Balaão que ousou trilhar caminhos diferentes do Deus do seu povo, e vendo que a jumenta que o levava para sua missão não atendia suas ordens passou a espanca-la.  Percebendo o ato de desobediência aconteceu que “e a jumenta disse a Balaão: Porventura não sou a tua jumenta, em que cavalgaste desde o tempo em que me tornei tua até hoje? Acaso tem sido o meu costume fazer assim contigo? E ele respondeu: Não”1.

               A democracia que todos nós almejamos é um campo fértil para o surgimento de dezenas de chapas para disputarem os Conselhos dos Técnicos Agrícolas, mas querer apagar a importância da ATABRASIL, FENTEC, OITEC e FINTA-BR na construção do Conselho é um erro político. Se não fosse essas entidades que “não param de brigar” sequer haveria Conselho para disputar, e seríamos injustos para com a história como foi Balaão que esqueceu como sua jumenta lhe foi útil durante tanto tempo.

               As nossas entidades (associações e sindicatos) juntas com o Conselho irão dinamizar a vida dos profissionais técnicos agrícolas e contribuir com a retomada do crescimento econômico do nosso país que precisa de trabalhadores na assistência técnica, extensão rural, pesquisa, defesa agropecuária e em tantos setores importantes no setor rural.

1 Número 22:30

* Técnico Agrícola pela Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ-UFRN).

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