segunda-feira, 1 de maio de 2023

Mário Manso: fragmentos de uma biografia

 Gustavo José Barbosa


A história do município de Nova Cruz (RN) é repleta de eventos e personalidades que marcaram a vida da comunidade, e que deixaram seu legado na construção do município ao longo dos Séculos XIX e XX. No ano de 1970, aos 90 anos de idade faleceu, em Nova Cruz, uma destas lideranças: o ex-prefeito do lugar Dr. Mário Manso (1880-1970), que desempenhou ao longo da sua vida um papel de protagonismo nesta importante cidade do Estado do Rio Grande do Norte.

            Mário Manso nasceu no ano de 1880, em São Fidelis (RJ), filho de Claudino Manso e D. Eritéria Manso, e por volta do ano de 1915 já havia chegado em Nova Cruz onde exerceu a função de gerente da Loja Paulista.[1] Assim, não tardou para que naquela promissora Vila o jovem fidelense fosse introduzido no seio da família Carvalho, de onde brotou o casamento (civil e religioso) no ano de 1916 com a jovem Maria Lúcia Carvalho Manso (1896-1973), filha do comerciante Camilo Soares de Carvalho (1859-?) e D. Maria Emília de Carvalho (1867-?).

            Do enlace matrimonial de Mário Manso e D. Maria Lúcia nasceram três filhos: Aldo Manso (1916-?), D. Dalva Manso (1919-2006) e o major Hugo Manso (1920-1989). O primeiro rebento do casal faleceu infante, a filha D. Dalva Manso não gerou descendência, enquanto o primogênito Hugo Manso casou-se com D. Terezinha Torres Manso (1927-?), filha de Antônio Cleofas da Silva “Totô Jacinto” (1887-1969) e D. Maria Torres da Silva (1889-1978) e do casal houve geração. Ao recordar a organização jurídica, econômica e civil na Nova Cruz da primeira metade do Século XX, D. Teresinha de Arruda Câmara Cabral notou que Mário Manso foi “casado com D. Maria Lúcia, e pai de Hugo Manso, oficial da aeronáutica, e de Dalva, que eu considerava bem vistosa, além de excelente pianista”.[2]

            Envolvido na política de Nova Cruz no período da República Velha, Mário Manso foi presidente da Intendência Municipal no ano de 1919, quando ao lado de Enéas Rocha, Joaquim Euclides Carvalho, João Paulo do Nascimento, José Gomes Bezerra, Luiz Cabral Ferreira Maciel (1885-1956) – vice-presidente, Misael de Sales (1870-?) - secretário e Thomaz Lisboa (1875-1947),[3] dirigiu os rumos da administração pública do município, que naquele ano recebeu o status de cidade.

            Por ocasião das comemorações do centenário da Independência do Brasil no ano de 1922 a presidência da Intendência Municipal de Nova Cruz estava sob a direção de Mário Manso, e em meio as inúmeras atividades comemorativas daquela data, o Sr. Fenelon D´Oliveira (1898-1985) o homenageou com uma planta da cidade.[4] O professor Antenor Laurentino Ramos (1941-2022) traçou uma síntese biográfica do Dr. Mário Manso, na sua obra sobre Nova Cruz: “... era outro rábula muito conhecido por ali. Fora prefeito da cidade, sempre requisitado para as ocasiões solenes. Muito respeitado, “o Seu Mário”! ... só andava, à moda antiga, de paletó, gravata borboleta, ereto, apesar da idade avançada. ”[5]

            Já na Era Vargas, o provisionado[6] Mário Manso exerceu entre as décadas de 1930 e 1940, em períodos intercalados, a função de prefeito de Nova Cruz,[7] e dentre as obras públicas executadas na sua gestão, o padre Normando Pignataro Delgado (1934-2012) lembrou que no ano de 1938 “... foi construído um grande depósito, para receber a água do rio Piquiri quer era transporta para Nova Cruz, pelos famosos Trens d´Água”.[8] Numa Nova Cruz rural, cuja extensão territorial compreendia naquela época as atuais cidades de Lagoa D´Anta, Monte das Gameleiras, Passa e Fica, São José de Campestre e Serra de São Bento, Dr. Mário Manso também foi um incentivador e líder cooperativista do ramo agrícola.

            Inúmeros líderes da comunidade novacruzense foram membros da Ordem Maçônica, e na primeira metade do Século XX atuaram na Loja Evolução 2ª, em Natal (RN). Além de Mário Manso, destacaram-se como obreiros daquela oficina: Afonso Ernesto Belmont (1873-1932), Antônio Arruda Câmara (1882-1956), Dr. Celso Dantas Sales, Dr. Luiz Amâncio Ramalho (1887-1936) e Nestor José Marinho (1887-1947).[9]

A fundação do Colégio Nossa Senhora do Carmo no ano de 1941, em Nova Cruz, também foi articulada pelo prefeito municipal Mário Manso,[10] que sob a inspiração do padre Pedro Rebouças de Moura (1913-1999), e em conjunto com outras lideranças da comunidade, trouxe as Irmãs Franciscanas do Bom Conselho para trabalhar a educação das crianças da comunidade. Assim, o legado do Dr. Mário Manso estendeu-se por diversos campos da sociedade novacruzense, e sua militância política foi herdada pelo seu neto, o professor Hugo Manso Júnior, uma importante liderança política contemporânea no Rio Grande do Norte.



[1] Locaes. A Liberdade, Nova Cruz, 24/10/1915, pp. 3-4.

[2] CABRAL, Teresinha de Arruda Câmara. Memórias de Nova Cruz. Natal: Cartgraf, 2004, p. 111.

[3] Nova Cruz. Almanak Laemmert, Rio de Janeiro, n° 77 e 78, p. 840.

[4] Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Natal, v. XIX, n. 1-2, 1922, pp. 294-297.

[5] RAMOS, Antenor Laurentino. Memorial da Anta Esfolada: Nova Cruz no espaço e no tempo. Natal: Feedback, 2014, Pp. 118-119.

[6] São os profissionais que não tendo curso de direito, receberam autorização para advogar em juízo de primeira instância, desde que inscrito na Ordem dos Advogados. O deferimento do requerimento de Mário Manso à Ordem dos Advogados do RN aconteceu no ano de 1935.

[7] Diário de Pernambuco, Recife, 29/12/1937, p. 2.

[8] DELGADO, Padre Normando Pignataro. Nova Cruz: mito e história. Natal: Departamento da Imprensa Estadual, 2005, p. 213.

[9] SILVA, Emydio, et al. A maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal: A Imprensa, 1924.

[10] PINHEIRO, Joaquim. Resgatando a memória: Mário Manso. O Urtigal, Nova Cruz, maio/1994, p. 4.

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