Gustavo José Barbosa
No
ano de 1913 o jovem Odilon Amâncio Ramalho casou-se, em Tacima, com D. Lucilla
Pessoa Ramalho (1892-1963), filha do coronel Manoel Targino de Freitas Pessoa e
D. Maria Idalina da Cruz Alves, nascida em Santo Antônio (RN). Deste enlace
nasceram seis filhos: D. Aniole Pessoa Ramalho (1914-1939), Ernani Pessoa
Ramalho (1916-1984), D. Noilde Pessoa Ramalho (1920-2010), D. Cloris Pessoa
Ramalho (1919-1990), D. Aline Ramalho Dantas (1922-2015) e D. Haidée Ramalho
Pessoa (1924-2021).
Percebe-se
por meio de documentos do arquivo cartorial de Nova Cruz (RN), que no ano de
1916 já havia uma presença de Odilon naquele próspero torrão potiguar, onde
exerceu inúmeras funções administrativas e também no campo do empreendedorismo.
Sobre a personalidade de Odilon, é importante atentar para uma nota escrita
pelo seu sobrinho Dr. Diógenes da Cunha Lima: “Odilon era alto e elegante. “Parecia um
lorde inglês”, observou Leonardo Arruda. Usava gravata e paletó de linho
branco, o que não o impedia de consertar, como mecânico, um motor elétrico,
para o desespero de tia Lucila”.[1]
No espectro do empreendedorismo foi grande a contribuição
de Odilon para a cidade de Nova Cruz sendo responsável pela pioneira iluminação
pública do lugar e até um cinema.[2] Além disso, voltou seu olhar para a inovação da agricultura do
município com a concepção de equipamentos para irrigação
agrícola, máquina para beneficiamento de sisal (Agave
sisalana), de milho (Zea mays) e na organização de uma fábrica de descaroçamento de
algodão.[3]
Odilon também desempenhou as
funções de juiz e de delegado de polícia (1935) de Nova Cruz, sendo este último
cargo exercido num momento muito complicado da política potiguar, pois no ano
de 1935 eclodiu a Intentona Comunista. Um grupo de revolucionários estabeleceu-se
na cidade para organizar as atividades comunistas, gerando um clima de pânico
na população, o que levou Odilon a ensaiar uma resistência armada, todavia tal conflito
não eclodiu.
A sua residência também não fugiu
ao olhar inovador de Odilon, conforme enfatizou Flamínio de Oliveira, e para construí-la
foi preciso adquirir:
... material até então utilizado nas casas senhoriais do Recife e outras capitais. Já naquela época, ele usou vitrais, assoalho, mosaico e telas de ardósia importadas da Inglaterra. Foi na casa de “Seu Odilon” onde se instalou o primeiro serviço de água encanada de Nova Cruz ...[4]
Naquele início do Século XX a política
novacruzense envolvia as principais famílias do lugar: Amâncio Ramalho, Aranha,
Arruda Câmara, Belmont, Bezerra, Carvalho, Gadelha, Lisboa, Manso, Marinho, Moreira,
Pessoa, Pignataro, dentre outras. Odilon foi uma liderança da seção local do
Partido Republicano na época que ficou conhecida como “República Velha”, em Nova
Cruz, e sua residência foi o palco de eventos até com a presença de lideranças
da política nacional.
No final da década de 1920, diante
de uma cisão do seu partido político, Odilon aderiu ao grupo formado pelo seu
irmão Dr. Luiz Amâncio Ramalho, Antônio Arruda Câmara (1882-1956) e Mário Manso
(1880-1970), sob o comando do governador Juvenal Lamartine (1874-1956). Assim, Odilon
“foi
um dos vultos mais importantes da história de Nova Cruz do passado.
Administrador competente, dinâmico, operou, pode-se dizer, uma verdadeira
revolução na vida e nos costumes do lugar”, como lembrou o professor Antenor Laurentino
Ramos (1941-2022).[5]
Além das atividades laborais,
Odilon foi dirigente do Grêmio Literário José Augusto, em Nova Cruz, e também
membro da Loja Maçônica 21 de Março, em Natal (RN). Odilon faleceu no dia 20 de
outubro de 1983, em Natal, e foi sepultado no jazigo da família no cemitério de
Nova Cruz; a sua história de vida precisa ser lembrada pelas gerações vindouras
como um sinal de uma vida dedicada ao progresso de Nova Cruz.
[1]
LIMA, Diógenes da Cunha Lima.
Vidas bem vividas. Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/vidas-bem-vividas/502845.
Acesso em 22.jan.2022.
[2] CABRAL, Teresinha de Arruda Câmara. Memórias de Nova Cruz. Natal: Cartgraf
Gráfica e Editora, 2004.
[3]
BARBOSA. Gustavo José. Odilon Amâncio Ramalho: um
empreendedor em Nova Cruz. Revista do
Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica, João Pessoa,
2022, n° 24.
[4]
OLIVEIRA, Flaminio de. Resgatando
a memória: Odilon Amâncio Ramalho. O Urtigal, Nova Cruz, fevereiro/março/1993,
p. 4.
[5] RAMOS, Antenor Laurentino. Memorial da Anta Esfolada: Nova Cruz no
espaço e no tempo. Natal: Feedback, 2014, p. 51.
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