sábado, 3 de dezembro de 2022

Nova Cruz e sua história: entre vilas e serras

 

Gustavo José Barbosa

“Mas a Anta esfolada não foi

esquecida e reaparece teimosa

nas estórias, nas palestras,

ressuscitadoras do passado”.

Luís da Câmara Cascudo

 


            Neste dia três de dezembro do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de dois mil e vinte e dois, a cidade de Nova Cruz (RN) lembra os 103 anos da sua elevação da categoria de vila à de cidade. Mas, ao longo de quase dois séculos de história do lugar, que anteriormente foi denominado Urtigal e Anta Esfolada, foram inúmeras as mudanças administrativas que sofreu a Rainha do Agreste na sua trajetória, como veremos adiante.

Década de 1840

            O jornalista Antônio Barros Pontes ao escrever sobre os primórdios da povoação que se formou às margens do Rio Curimataú, informou que Anta Esfolada pertenceu no princípio ao município de Vila Flôr (RN). Em seguida, citou a Resolução n° 100, de 27 de outubro de 1843, que criou o Distrito de Paz da Anta Esfolada, um avanço que possibilitou certa autonomia de conotação política, administrativa, judicial, dentre outras prerrogativas.

            Três anos depois, o Distrito da Anta Esfolada foi anexado ao município de Goianinha (RN) por meio da Lei Provincial n° 150, de 20 de outubro de 1846, quando presidiu a província do Rio Grande do Norte o Dr. Casimiro José de Morais Sarmento (1813-1860), do Partido Conservador. A expressão distrito acima citada significa que Anta Esfolada possuiu naquela época uma determinada soberania relativa aos seus atos administrativos, judicial ou fiscal.

Década de 1850

            Recorrendo aos escritos de Augusto Tavares de Lira (1872-1958) e também de Anfilóquio Câmara, verifica-se que a Lei Provincial n° 245, de 15 de março de 1852, criou o município de Nova Cruz. O termo município é um resquício da divisão administrativa utilizada pelos romanos e portugueses, empregada posteriormente no Brasil para designar, segundo a tradição, o lugar que tinha autonomia para criar suas próprias leis.

            Ocorre que, ao publicar um estudo sobre as denominações dos municípios potiguares, o Dr. Manoel Dantas (1867-1924) deu ciência que uma Lei Provincial de 23 de março de 1852 que anexou novamente o município de Nova Cruz ao de Vila Flôr. Percebe-se que houve uma constante mudança nas anexações de Nova Cruz ao longo desses anos aos municípios de Vila Flor, Goianinha e finalmente à Vila Flôr, de acordo com as deliberações tomadas pelos administradores da Província do Rio Grande do Norte.

Década de 1860

            A penúltima mudança substancial destas  transições na história de Nova Cruz aconteceu no ano de 1860, quando a sede do município foi instalada em São Bento (RN) – atual Serra de São Bento. Finalmente, com o advento da Lei Provincial n° 609, de 12 de março de 1868, proposta pelo deputado provincial Jeferson Mirabeau de Azevedo Soares, a sede do município, bem como a da Freguesia, foi transferida para Nova Cruz.

Década de 1910

          

Joaquim Ferreira Chaves

  Coube ao governador do Rio Grande do Norte Dr. Joaquim Ferreira Chaves (1850-1937) sancionar a Lei n° 470, de 3 de dezembro de 1919, que elevou Nova Cruz ao status de cidade. Trinta anos antes, o mesmo Joaquim Ferreira Chaves, então juiz de direito da Comarca do Trairy, foi o responsável em coordenar na tarde no dia 18 de novembro de 1889 o ato de proclamação da República na Câmara Municipal de Nova Cruz.

            Além destas inúmeras mudanças, que enriquecem a história política de Nova Cruz ao longo dos anos, é importante também lembrar fatos relacionados à religiosidade local, que remontam a primeira metade do Século XIX, época em que nossos patrícios reuniam-se numa pequena capela sob a invocação de Nossa Senhora do Ó e posteriormente de Nossa Senhora da Conceição, cuja Festa se aproxima.  

Referências

CÂMARA, Anfilóquio. Cenários municipais: 1941-1942. Natal: Oficina do DEE, 1943.

DANTAS, Manoel. Denominação dos municípios. Natal: Typographica Natalense, 1922.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Enciclopédia dos municípios brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1960. 17 v.

LIRA, Augusto Tavares de. História do Rio Grande do Norte. Brasília: Senado Federal, 2012. 167 v.

NOBRE, Manoel Ferreira. Breve notícia sobre a Província do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro: Pongetti, 1971.

PONTES, Antônio Barroso. Aspectos da situação atual de Nova Cruz. O Poti, Natal, 11/02/1958, p 3.

Rio Grande do Norte. Actos legislativos e decretos do Governo: 1919. Natal: Typografia Commercial, 1920.

           

 

 

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